Criador de Saiki K. Ouve Mulheres Conversando Sobre Seu Mangá na Livraria

O universo dos mangás é repleto de histórias curiosas e encontros fortuitos, mas poucos são tão hilários e, ao mesmo tempo, tão reveladores sobre a indústria quanto o episódio vivido por Shūichi Asō, o talentoso criador de "The Disastrous Life of Saiki K." No dia 3 de agosto, através de sua conta no X (antigo Twitter), Asō compartilhou uma experiência peculiar que teve em uma livraria, um relato que vai muito além de uma simples anedota, mergulhando nas complexidades da fama, do reconhecimento e da eterna sombra projetada por gigantes como "Dragon Ball".

Asō narrou que, durante uma visita a uma livraria não identificada, seu coração de mangaká foi preenchido por uma onda de alegria genuína ao ouvir duas mulheres exclamarem: "Oh! 'The Disastrous Life of Saiki K.'!" Para qualquer artista, ouvir seu trabalho sendo reconhecido e comentado em público é um momento de validação poderosa, um lembrete de que suas criações ressoam com o público. Era a prova de que sua série, mesmo após o fim de sua publicação, continuava viva na mente e no coração dos fãs. Essa felicidade, no entanto, foi tão intensa quanto efêmera.

O golpe de realidade veio rápido e foi desferido com a precisão de um ataque do Kamehameha. Ao seguir o olhar das duas entusiastas, Asō percebeu que elas não estavam segurando um volume de "Saiki K." ou apontando para uma prateleira com seus livros. Na verdade, sua atenção estava completamente voltada para um pôster que exibia a coleção de artes de capa variantes criadas por artistas convidados para o luxuoso conjunto de mangás do 40º Aniversário de "Dragon Ball". O momento de autocelebração transformou-se instantaneamente em um momento de comédia autoconsciente, perfeitamente alinhado com o tom de seu próprio trabalho.

Com um humor característico, Asō então reconstruiu mentalmente a conversa que provavelmente antecedeu a menção ao seu nome. Ele imaginou o diálogo das duas mulheres: "Quem é a pessoa que desenhou a capa variante do volume 37? Eu conheço todos os outros artistas, mas não reconheço esse. Vou pesquisar no Google." E foi assim, não como um autor celebrado, mas como um mistério a ser solucionado no motor de busca, que Shūichi Asō foi apresentado naquela livraria. A ironia da situação não escapou ao mangaká, que é conhecido por seu senso de humor seco e autodepreciativo.

Ele brincou, finalizando seu relato, que deveria ter surpreendido as duas mulheres, se aproximando delas e anunciando com o icônico espírito jovial e despretensioso do protagonista mais famoso de "Dragon Ball": "Hey! Eu sou o Asō!" (Oye! Yo soy Aso!). Essa referência a Son Goku não é apenas uma piada pontual; é um reconhecimento profundo do impacto cultural de Akira Toriyama e de sua criação monumental. "Dragon Ball" não é apenas uma série; é um pilar fundamental da indústria de mangás, uma obra que definiu gerações e contra a qual muitos artistas, mesmo os bem-sucedidos como Asō, ainda se medem.

Este episódio serve como um microcosmo fascinante da hierarquia e da dinâmica dentro do mundo dos mangás. "The Disastrous Life of Saiki K." foi, sem sombra de dúvidas, um sucesso significativo. Serializado pela prestigiosa Weekly Shonen Jump da Shueisha entre maio de 2012 e fevereiro de 2018, o mangá conquistou uma legião de fãs com sua premissa única: Kusuo Saiki é um poderosíssimo psíquico que pode fazer praticamente tudo, mas seu maior desejo é levar uma vida comum e tranquila, um plano que é constantemente frustrado por um elenco de personagens excêntricos e absurdos que gravitam ao seu redor.

A série se destacou por sua comédia fragmentada, quebra da quarta parede e paródias inteligentes de tropes comuns de mangás shonen. Foi um respiro de ar fresco cômico na revista que também publicava gigantes como "One Piece", "My Hero Academia" e "Haikyu!!". O sucesso do mangá rapidamente se traduziu em outras mídias: uma adaptação para anime estreou em 2016, seguida por um filme de ação real em 2017, ampliando ainda mais o alcance e a popularidade do universo de Saiki K.

No entanto, como a anedota da livraria ilustra com perfeição, mesmo um sucesso desse calibre ainda opera sob a sombra onipresente de "Dragon Ball". Ser convidado a contribuir com uma arte de capa variante para a coleção de aniversário de "Dragon Ball" é uma honra immense na comunidade de mangás. É um reconhecimento por parte da editora e da equipe de licenciamento de que o artista possui um estilo distintivo e uma contribuição significativa para a indústria. A coleção do 40º aniversário reuniu uma constelação de estrelas do mangá, cada uma prestando homenagem à obra de Toriyama à sua maneira única.

O fato de Asō ter sido o autor responsável pela capa do volume 37 coloca-o em um patamar elevado. Significa que seu nome e sua arte estão lado a lado com os de outros mangakás lendários que também participaram do projeto. No entanto, a cena na livraria revela uma desconexão entre o prestígio profissional dentro da indústria e o reconhecimento imediato pelo público geral. Enquanto os fãs hardcore e os colegas de profissão certamente sabem quem é Shūichi Asō, para o consumidor médio de mangás, seu nome pode não ser tão instantaneamente reconhecível quanto o de Eichiro Oda ou Kohei Horikoshi, ou mesmo o do próprio Akira Toriyama.

Esta não é uma crítica, mas sim uma observação realista do ecossistema da cultura pop. "Dragon Ball" transcendeu o status de simples mangá para se tornar um fenômeno global, um ícone cultural cujos personagens e referências são entendidos mesmo por aqueles que nunca leram um capítulo. "Saiki K.", por mais amado que seja, existe em um nível diferente de penetração cultural. A reação das mulheres na livraria—curiosidade sobre um artista que elas não reconhecem—é, na verdade, um testemunho do poder de projetos como o do aniversário de "Dragon Ball": eles expõem o trabalho de artistas fantásticos a um público mais amplo.

Portanto, a história de Shūichi Asō é mais do que apenas engraçada; é humilde, relatable e profundamente humana. É sobre aquele pequeno choque entre nossa autoimagem e como o mundo nos percebe. É sobre a alegria de ser reconhecido seguida pela risada de perceber que o reconhecimento veio de uma forma completamente inesperada. E, acima de tudo, é uma homenagem divertida e respeitosa a "Dragon Ball", uma série que continua, quatro décadas depois, a ser um ponto de referência central e uma fonte de inspiração inesgotável para todos no mundo dos mangás—dos leitores casuais nas livrarias aos mangakás mais talentosos que têm a honra de desenhar seus personagens.

Fontes: Conta no X/Twitter de Shuichi Asō (link do post) via Hachima Kikō